Relação da Odontologia com o aleitamento materno reitera importância da participação do Cirurgião-Dentista como incentivador e integrante da promoção de saúde bucal
Amamentar, aleitar, dar de mamar, alimentar, nutrir, sustentar! A garantia da saúde materno-infantil é uma das metas para este milênio, visto que gestantes e crianças compõem grupos prioritários nos serviços da saúde. Posto isso, uma das estratégias empregadas para a promoção da saúde do binômio mãe-filho é o incentivo ao aleitamento materno. Estudos comprovam que a amamentação é capaz de salvar a vida de cerca de 13% das crianças, menores de 5 anos, em todo o mundo. E, isso é uma realidade, afinal, os benefícios do aleitamento, tanto para a mãe como para o bebê, do ponto de vista imunológico, nutritivo, afetivo, cognitivo, intelectual, entre outros, é um consenso entre os profissionais da saúde.
A prevalência de amamentação no Brasil é temática. Desde 1992, a Semana Mundial de Aleitamento Materno (SMAM) é comemorada na primeira semana de agosto, entre os dias 1 e 7. Logo, em abril de 2017, o Congresso Nacional sancionou a Lei nº 13.435, instituindo o mês de agosto como o mês do aleitamento materno e intitulando-o como Agosto Dourado. À vista disso, a cada ano, um tema ou ângulo sobre essa questão é ressaltado para fomentar a amamentação e a diferença que ela faz na promoção à saúde da criança, no vínculo familiar, na educação e em diversos fatores ao longo da vida. “Aleitamento materno: a base da vida” é o tema da Semana Mundial de Aleitamento Materno de 2018, definido pela Aliança Mundial para Ação em Amamentação (WABA).
Nesse cenário, e com o objetivo de ampliar as discussões sobre o tema, a odontopediatra e diretora do Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde da APCD, Helenice Biancalana, convidada do APCD Jornal para compartilhar sobre o aleitamento materno e suas vertentes dentro da Odontologia, aborda que no início da vida, o leite materno reúne as características nutricionais ideais com adequado balanceamento de nutrientes para suprir as necessidades do bebê. “Altamente digestível, nutritivo e preventivo, uma vez que é constituído por imunoglobulinas que reforçam a imunidade do bebê contra doenças alérgicas e infecciosas, o leite materno, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) é recomendável, exclusivo, até a criança completar seis meses de vida e a manutenção do aleitamento com complemento nutricional, até os dois anos ou mais”.
No que se refere à amamentação natural, Helenice pontua que o aleitamento deve ser estimulado, pois o ato fisiológico da sucção na mama materna promove um intenso trabalho da musculatura peribucal, influencia o desenvolvimento correto dos padrões ósseos e musculares, gerando fadiga nos músculos e fazendo com que a criança satisfaça seu instinto de sugar e não necessite de uma sucção não nutritiva. Vale dizer, ainda, segundo a odontopediatra, que a amamentação natural “apresenta valores dietéticos e imunológicos incomparáveis, estimula a função gástrica normal do recém-nascido, tem ação psicológica calmante, pelo amplo contato materno, conforto e calor naturais que o momento da amamentação proporciona à criança, evita superalimentação e diminui a aerofagia e, por fim, favorece um desenvolvimento maxilomandibular normal. Atualmente, enfatiza-se a ação benéfica do aleitamento sobre o crescimento das várias estruturas faciais. Sugar no peito aprimora a mobilidade, postura e tonicidade da musculatura orofacial envolvida, contribui para o estabelecimento da respiração nasal, além de prevenir a instalação de hábitos orais deletérios e más oclusões. Além disso, o posicionamento adequado, na amamentação, também contribui para diminuir o risco de problemas auditivos causados por otites, já que um fator agravante da perda auditiva condutiva é a ingestão de líquidos na posição deitada, principalmente em recém-nascido (RN), em virtude da disposição da tuba auditiva mais horizontalizada. A sucção, deglutição e respiração, funções primárias do bebê, são desenvolvidas por meio de uma correta forma de amamentação, devendo constituir um sistema equilibrado. A nutrição e sucção devem estar em equilíbrio, caso contrário, a necessidade de sucção pode não ser alcançada, causando uma insatisfação emocional, e assim a criança buscará substitutos como dedo, chupeta, ou objetos, adquirindo hábitos deletério”.
Todavia, com o nascimento do bebê, as dúvidas sobre o aleitamento ainda surgem, já que a prática exige paciência, calma, envolvimento familiar, muito amor e interação. O leite materno é o melhor e mais completo alimento e não necessita de nenhum complemento “ainda nos primeiros dias de vida do bebê, na maternidade, é realizado o teste do frênulo lingual, obrigatório por Lei 13.002/14, que tem o objetivo de avaliar a possível interferência na amamentação aos casos individuais em que seja constatada dificuldade de amamentação nas primeiras semanas de vida. Em caso de evidência de que a anquiloglossia – condição que restringe a faixa de movimento da língua – seja a causa da dificuldade de amamentação, a indicação da cirurgia de frenotomia pode ser considerada”, diz.
Estudando as percepções, Helenice afirma que “a amamentação natural deve ser abordada sob o âmbito multiprofissional, onde o odontopediatra tem papel de grande relevância para a Odontologia, sobretudo na abordagem da promoção da saúde, durante os primeiros 1000 dias da vida do bebê, período que soma os 270 dias da gestação aos 730 dias até que o bebê complete dois anos de idade. O fato da contagem dos primeiros 1000 dias começar na gravidez é exatamente porque a gestação impacta na saúde física, oral e emocional do feto. Nesse período, a gestante, a mamãe puérpera e a família envolvida, devem ser orientadas e motivadas para a criação de novos hábitos, haja vista a forte relação que existe entre aleitamento materno, o desenvolvimento do sistema estomatognático e a prevenção da cárie. O odontopediatra em sua rotina e planejamento diário é o especialista responsável pelo pré-natal odontológico da gestante onde são abordados, de maneira educativa, a importância de manter uma saúde oral e enfatizando a necessidade da gestante empreender esforço para cuidar da própria saúde oral. Junto aos exames de pré-natal, é recomendado buscar aconselhamento odontológico, principalmente para a prevenção de possíveis complicações, como cárie, dor, inflamação gengival e infecções orais, que podem comprometer a gestação, inclusive conduzir a partos prematuros”.
Considerando essa perspectiva, a APCD apoia o aleitamento materno e se une à Sociedade Brasileira de Pediatria e à Associação Brasileira de Odontopediatria na defesa pela amamentação natural diante de todos os seus benefícios comprovados por inúmeras evidências científicas.
Fonte: Revista APCD
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