segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Estudo indica que propensão a ter cárie está relacionada a variações genéticas


Pesquisadores estudam biomarcadores para verificação em determinadas populações

A cárie dentária é geralmente relacionada com a ingestão de doces e uma higiene bucal deficiente, mas a ciência vem mostrando que as causas dessa doença são mais complexas. A pesquisadora e professora do Programa de pós-graduação em Odontopediatria da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, Erika Calvano Kuchler, investigou marcadores genéticos específicos do DNA, aqueles que mostram as diferenças entre duas ou mais pessoas ou organismos da população brasileira, para avaliar se a propensão à doença cárie está relacionada à genética. “Nos primeiros resultados da análise em três Estados do País já se percebe essa variabilidade”, diz a pesquisadora.

Erika relata que seu objetivo foi identificar a possibilidade de que a variação em microRNAs (pequenos RNAs conservados ao longo da evolução e que regulam a expressão do DNA) pode estar envolvida na suscetibilidade de uma pessoa apresentar cárie dentária, pois há quem sofra com a doença mesmo tendo uma boa higiene bucal. “É possível que microRNAs funcionem como um biomarcador para a cárie, de acordo com o perfil genético do paciente”.

A pesquisa é uma sequência de outro estudo com o gene DEFB1 que foi desenvolvida em parceria entre a USP e a Universidade Federal Fluminense (UFF) e teve diversos pesquisadores envolvidos, e já tinha sido avaliado como possível biomarcador genético para a cárie dentária em adultos dos Estados Unidos e crianças da Letônia. No Brasil, além desse gene, o microRNA202 foi escolhido para o teste pelo fato de ambos apresentarem uma interação. “Queremos estabelecer biomarcadores para explicar o aparecimento de cárie e acreditamos também que vários fatores podem influenciar nessa doença, desde o ambiente em que se vive até variações genéticas, como a etnia, por exemplo”, explica Erika. Para trabalhar na comprovação da tese, participaram da pesquisa 222 crianças de Ribeirão Preto, 678 do Rio de Janeiro e 90 de Manaus, que tiveram saliva coletada como fonte de DNA genômico.

Os resultados preliminares do estudo nessas três populações apresentaram diferenças genéticas entre as crianças para propensão a ter cárie, mostrando que o ambiente em que a criança está inserida pode influenciar na doença, assim como a genética. Por isso, para alcançar uma informação mais relevante possível, a pesquisadora deseja ampliar o estudo para toda a população nacional. “Com verba, já iremos avaliar 500 crianças de Curitiba e 300 de Alfenas, em Minas Gerais. O Brasil é um país de dimensões continentais, com uma variabilidade étnica e cultural muito grande, por isso um estudo englobando crianças de diferentes regiões do Brasil pode gerar resultados mais robustos sobre a associação de biomarcador com a suscetibilidade à cárie”.

Para a pesquisadora, quando ocorrer a finalização dos estudos que investigam genética e cárie, será possível identificar o conjunto de genes que são associados ao maior risco de aparecimento da doença e detectar bem cedo crianças com maior predisposição, além de possibilitar que o tratamento seja feito de forma mais intensa e preventiva.

Fonte: Jornal da USP

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